31/10/2016

Instituto de Botânica estuda Palmeiras do Vale do Ribeira

A pesquisadora Dra. Valéria Augusta Garcia do Instituto de Botânica de São Paulo coordenou o projeto intitulado “CONSERVAÇÃO E PROPAGAÇÃO DE ESPÉCIES DE ARECACEAE” que estudou diversas palmeiras nativas do Brasil na região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, realizando trabalhos de propagação, cultivo e usos alternativos.

O Vale do Ribeira é uma região peculiar por ser uma das áreas menos urbanizadas e industrializadas do estado de São Paulo, com grande parcela da população vivendo em áreas rurais e desenvolvendo atividades agrícolas de subsistência e extrativistas. É considerada, também, uma das regiões paulistas mais pobres, sendo o turismo, a mineração e o agronegócio os principais segmentos da economia regional. Essa região apresenta 60% de toda a sua área recoberta por vegetação nativa e unidades de conservação estaduais.

A seleção das espécies arbóreas nativas visando ao atendimento de programas de reflorestamento, melhoramento genético ou de silvicultura é dificultada pelo desconhecimento tanto da qualidade fisiológica das sementes como da produção de mudas, e as palmeiras (família Arecaceae) se destacam nesse contexto. As palmeiras têm grande importância econômica pelos diferentes produtos que delas podem ser obtidos. Conforme a espécie, pode fornecer madeira de construção, folhas e talos para a cobertura de moradias e cercas de quintais e para a fabricação de esteiras, cordas, sacos, cestos, chapéus, etc. As folhas, frutos e sementes são consumidas tanto pelos animais domésticos como os silvestres. Dos produtos destinados à alimentação humana, pode-se citar o óleo, o leite, palmito, vinho, farinha, amêndoa e os frutos, que podem ser consumidos frescos ou processados. Esta é uma família botânica muito utilizada no paisagismo e nos trabalhos de recomposição dos ecossistemas florestais.

No mundo, estimativas mais atualizadas apontam para a existência de 2.600 espécies de palmeiras dentro de 200 gêneros. Nas Américas são encontrados 67 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies, sendo que no Brasil estão distribuídas 119 espécies, pertencentes a 39 gêneros.

Para colaborar no conhecimento das palmeiras, dentro do projeto realizado pelo Instituto de Botânica, realizou-se estudo fenológico de palmeiras nativas do Brasil, que demonstrou que há variações na capacidade reprodutiva das espécies de um ano para outro. A pupunheira (Bactris gasipaes) apresentou média de 147 dias entre a abertura da inflorescência e a formação de frutos maduros, já em juçara ou palmiteiro (Euterpe edulis) esse processo demorou 280 dias, e 174 dias em jerivá (Syagrus romanzoffiana). Constatou-se ainda, que pode-se utilizar a coloração dos frutos como indicador do ponto de maturidade fisiológica das sementes. Tais dados indicam o momento certo da colheita dos frutos das palmeiras para se adquirir sementes que terão melhor germinação e assim, proporcionarão mais mudas. Já na pesquisa utilizando resíduo de mineração de areia na produção de mudas de pupunheira verificou-se que esse material deve ser de no máximo 75% do volume do substrato, sempre agregado a outros materiais para que a composição final seca apresente densidade entre 500 e 800 kg.m-3.

A pesquisa direta com consumidores de palmito (folhas novas de palmeiras que ainda não foram emitidas) da Grande São Paulo permitiu concluir que a maior parcela da população entrevistada não difere o palmito quanto à espécie que deu origem ao produto e aqueles que que diferem, o faz pelo atributo ecológico; a maioria dos entrevistados não pagaria mais pelo palmito orgânico; os consumidores não estão fidelizados, uma vez que os mesmos não escolhem o produto pela marca; os entrevistados consideram o produto muito caro e adquirem o produto poucas vezes ao ano e quando o fazem, a compra é feita em supermercados.  Nas pesquisas, verificou-se ainda que os resíduos do processamento da agroindústria do palmito podem ser utilizados na produção de silagem para consumo de animais ruminantes e também como parte de material para compostagem com a finalidade de uso como adução orgânica.

Imagens de Valéria Augusta Garcia.