
22/05/2018
O pesquisador Dr. Claudio José Barbedo, do Instituto de Botânica de São Paulo, coordenou o projeto intitulado “Processos fisiológicos relacionados com a obtenção, manutenção e aproveitamento de sementes de elevada qualidade, visando a subsidiar estratégias de conservação de espécies tropicais”. Neste projeto foi estudada a fisiologia das sementes de espécies nativas do Brasil buscando fornecer subsídios para o desenvolvimento de tecnologia de conservação e de restauração florestal. Com crescente avanço da antropização dos ecossistemas, há maior risco de que muitas espécies desapareçam antes mesmo de serem conhecidas ou de terem desvendadas suas potencialidades. Portanto, há urgente necessidade de se buscar mecanismos e tecnologias que permitam conservar o maior número possível de espécies, principalmente as de ecossistemas tropicais, que figuram entre os de maior biodiversidade e os mais ameaçados.
A manutenção de sementes em bancos de germoplasma é uma das mais importantes formas de conservação ex situ, já que a semente é a unidade de propagação natural da maioria das espécies de plantas superiores, é a mais econômica, mais longeva, de mais fácil manipulação e a que ocupa os menores espaços físicos. Contudo, ainda não há tecnologia que permita sua utilização em um grande número de espécies nativas do Brasil, especialmente as de regiões tropicais. Isso porque a metodologia convencional de conservação de sementes utilizada em bancos de germoplasma compreende a secagem e armazenamento em câmaras a temperaturas abaixo de zero. Entretanto, há sementes sensíveis à desidratação e ao congelamento, que não sobrevivem ao armazenamento nessas condições. Agrava-se o sucesso na busca de tecnologia pelo fato de que ainda é insuficiente o conhecimento relacionado à sensibilidade dessas sementes à redução do seu teor de água e da temperatura, ao metabolismo durante a maturação, armazenamento e germinação, especialmente a respiração e outros processos oxidativos, aos processos envolvidos na formação das sementes que condicionam sua qualidade final e à retomada da atividade germinativa, especialmente quanto à maximização na utilização das sementes armazenadas, envolvendo a dormência e a capacidade de regenerar novas plântulas.
No projeto coordenado pelo Dr. Claudio, esse conhecimento foi ampliado, aproximando a busca pelo desenvolvimento de tecnologia que permita armazenar essas sementes por período longo o suficiente para possibilitar sua inclusão em bancos de germoplasma e em programas de restauração ecológica. O projeto evidenciou a importância das condições nas quais as sementes são formadas e amadurecem, considerando-se desde a fase de polinização até a de dispersão, das condições responsáveis pelas alterações nos níveis de tolerância à dessecação, das diferentes exigências das sementes para germinar e produzir plântulas normais, incluindo-se a dormência e sua superação e o balanço entre promotores e inibidores de germinação, da presença e interação de microrganismos com a semente, desde sua formação até sua germinação ou deterioração durante o armazenamento e dos processos metabólicos envolvidos em todas essas etapas, bem como suas alterações e consequências, especialmente o metabolismo respiratório e o de carboidratos. Dentre os principais resultados, salientam-se: 1) os que permitiram verificar a importância do controle do ambiente de armazenamento das sementes de pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam.), espécie símbolo do país cujas sementes deterioram-se rapidamente se esse controle não é realizado; 2) os que permitiram compreender melhor a capacidade, quase única na natureza, das sementes de espécies de Eugenia em regenerar plântulas mesmo quando grande parte de suas reservas é removida; 3) a importância do tipo de polinização já nas primeiras fases da germinação; 4) a desvinculação dos processos de maturação e dormência de sementes (até então considerados interdependentes); 5) a importância do controle de fungos associados às sementes por processos não-químicos (que poderiam trazer prejuízos ao ambiente).